Fundamentação

 

As atuais “profissões de sonho” dos jovens já não passam obrigatoriamente por atividades de prestígio consagradas pelo ensino superior, como as de médico, advogado, engenheiro ou arquiteto. No atual contexto de descrença em que a obtenção de um grau académico cumpriria sonhos de rendimento, estatuto social e estabilidade laboral, as promessas académicas de empregabilidade competem com as promessas mediadas por outros contextos sociais mais informais, tais como as culturas juvenis e as culturas mediáticas de celebridade.

 

De facto, atividades desenvolvidas dentro das esferas do grupo de pares, da família, do lazer e do consumo têm integrado as expectativas e as opções profissionais de um número crescente de jovens, promovendo a sua incursão em novos territórios educativos e laborais que necessitam ser conhecidos com mais rigor e profundidade. É o caso de territórios como a música eletrônica, a moda, o futebol ou a culinária, por exemplo, sobre os quais se debruça o projeto de investigação Tornando Profissões de Sonho Realidade: transições para novos mundos profissionais atrativos aos jovens.

 

​Este projeto de investigação foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (PTDC/CS-SOC/122727/2010) e decorreu entre Março de 2012 e Outubro de 2015 no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, sob a coordenação científica de Vítor Sérgio Ferreira, PhD.

 

 

 

Objetivos
 

O principal objetivo do projeto Tornando Profissões de Sonho Realidade: transições para novos mundos profissionais atrativos aos jovens, é investigar como são construídas socialmente as aspirações, as escolhas, os projetos e os trajetos de inserção profissional de jovens portugueses no exercício das ocupações de DJ, modelo, jogador de futebol e chefe de cozinha, hoje bastante atrativas nos horizontes de trabalho das novas gerações.

 

De facto, estas atividades têm passado por um amplo processo de reconfiguração social e simbólica, atraindo jovens com novos perfis sociais e adquirindo um valor de prestígio no mercado das profissões que não detinham no passado. Se até recentemente ser jogador de futebol ou cozinheiro eram apenas profissões modestas, e ser DJ ou modelo não eram profissões promissoras, hoje em dia estas ocupações tomaram-se parte das aspirações, projetos e trajetos de inserção profissional de cada vez mais jovens.

 

 

Questões de partida
 

Compreender “como” e “por quê” as ocupações de DJ, modelo, jogador de futebol e chefe de cozinha têm vindo a estabelecer-se nos horizontes profissionais das mais novas gerações enquanto novas "profissões de sonho” foi o propósito fundamental do projeto de investigação Tornando profissões de sonho realidade: transições para novos mundos profissionais atrativos aos jovens.

 

No ponto de partida deste projeto, estiveram as seguintes questões:

1. Que sentidos e valores são atribuídos a estas atividades pelos jovens que tentam segui-las profissionalmente?

2. Que papel desempenham esses sentidos na construção de identidades juvenis, nomeadamente das suas identidades sociais e profissionais?

3. Como se configuram os percursos de transição para o trabalho em cada uma dessas ocupações?

4. Que impactos, reais ou esperados, tem a escolha dessas ocupações nos processos de transição para a vida adulta dos jovens?

 

 

Dimensões de Análise
 

Com o propósito de descobrir respostas para estas questões, o desenho da pesquisa do projeto desenvolveu-se em torno das seguintes dimensões de análise:

 

1. Percursos sociais de produção dos “sonhos”, aspirações e expetativas dos jovens no exercício deste conjunto de ocupações: como elas são idealizadas; que sentidos, experiências e contextos sociais informam e formam a atração por este conjunto de ocupações; em que condições sociais e simbólicas os “sonhos” por estas atividades são construídos;

2. Percursos sociais de concretização dos “sonhos”, aspirações e expetativas dos jovens no exercício deste conjunto de ocupações: que circunstâncias sociais envolvem a transformação do “sonho” em projeto profissional; que estratégias, capitais, competências e recursos (sociais, culturais e materiais) são mobilizados com esse propósito; com que tipo de apoios, negociações, compromissos e conflitos os jovens têm que lidar enquanto resultantes dessa opção em várias esferas das suas vidas quotidianas (família, escola, grupo de pares, etc.)

3. Percursos de inserção profissional dos jovens no exercício deste conjunto de ocupações: aspetos sociais que envolvem a integração dos jovens nessas atividades; estratégias, capitais e recursos mobilizados com esse propósito; identificar e compreender possíveis (des)coincidências entre o “sonho”, aspirações e expetativas, o projeto e as realidades do desempenho profissional.